O
meu Pai chama-se João e nasceu na pequena aldeia de Veiros, conselho de
Estremoz, Distrito de Portalegre em 1940, numa família de 7 irmãos (apenas um
era uma menina, a mais nova).
Nascer
em 1940, numa família rural de poucos recursos não era fácil. O trabalho no
campo começou muito cedo, mas ainda assim houve tempo para completar a 4ª classe,
um feito enorme para a época, e para as poucas posses da família.
O
meu Pai nasceu "no meio" dos seus irmãos. Quer isto dizer que foi
cuidado por eles, mas também ele teve de cuidar de outros. Era assim a vida e a
ajuda que tinha de ser dada aos Pais.
Era
assim que a responsabilidade e a disciplina vinham também elas muito cedo na
vida de uma criança. Essa responsabilidade e disciplina marcaram muito o carácter do meu Pai mas nunca lhe retiraram uma bondade natural que só as
pessoas de bom coração têm.
O
meu Pai também foi à tropa, mas felizmente não teve de ir para a guerra no
ultramar - trauma que marcou uma geração de jovens - mas o meu Pai, dizem que
por ser de estatura pequena, acabou por ser "requisitado" como moço
de recados do comandante do quartel em Estremoz, e que por isso mesmo e porque
a sua filha pequena se afeiçoo ao meu Pai (experiência a cuidar de crianças era
coisa que não lhe faltava como já se viu) o afastou do pesadelo da guerra.
Na
tropa acabou por "tirar a carta" e isso viria a dar-lhe uma profissão
para a vida. Fez-se motorista. Primeiro de camiões de transporte de mercadorias
em várias empresas. Mais tarde motorista no estado, ao serviço do ministério da
saúde, primeiro num centro de saúde, mais tarde no centro de segurança social.
Foi
ai que se reformou. Uma vida dedicada ao seu trabalho, com enorme
responsabilidade e disciplina. Os seus carros eram sempre os mais limpos,
aqueles que davam menos problemas mecânicos como consequência de uma manutenção
levada ao extremo. Saiu cansado, mas reconhecido pelos seus pares. Isso para
ele foi o maior orgulho.
Infelizmente
não estive presente nesse dia de despedida. Não me recordo porquê, mas sinto
que deveria ter estado.
O
meu Pai nunca me bateu. É verdade. Não me recordo de uma única ocasião em que
este pequeno homem - pequeno de estatura, mas grande de coração - me tenha
levantado a mão. E isso é admirável.
Hoje,
no caminho para o trabalho uma colega ao meu lado disse-me “o meu Pai morreu”.
A
tristeza estava nas suas palavras, no tom da sua voz, na postura do seu corpo,
até no sorriso que tentava esboçar. Dei-lhe um beijo, algumas palavras de apoio
(que ela sabe serem reais) mas imediatamente dei por mim a pensar no meu Pai,
cujo aniversário irá celebrar daqui a 4 dias. Eu não vou estar com ele nesse
dia.
Estive
com ele este mês. Passamos alguns dias de férias juntos (coisa rara). Mas não
vou estar com ele no dia do seu aniversário.
Vou
enviar-lhe hoje um presente pelo correio que sei que ele vai gostar. Já o conheço.
Mas
não vou estar com ele no dia do seu aniversário.
Vou
telefonar-lhe e dar-lhe os parabéns, desejar-lhe "muitos e bons
anos", mas não vou estar com ele no dia do seu aniversário.
Quantas mais oportunidades irei ter, para estar com ele no dia do seu aniversário e dizer-lhe pessoalmente - Pai, Amo-te Muito. Parabéns.
Fernando Fausto Margalho Barroso, Filho de João Manuel Garcia Barroso
Tu Lideras a Tua Vida
Olá
ResponderEliminarBonita homenagem a um pai...
_______________
Mesmo atrasado.... um abraço de parabéns ao teu pai.
Cumprs
Augusto
Fernando,
ResponderEliminarMuita bonita a sua homenagem ao seu pai. Gostei muito de ler.
Um abraço,
Alexandre