quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Meu Pai

O meu Pai chama-se João e nasceu na pequena aldeia de Veiros, conselho de Estremoz, Distrito de Portalegre em 1940, numa família de 7 irmãos (apenas um era uma menina, a mais nova).

Nascer em 1940, numa família rural de poucos recursos não era fácil. O trabalho no campo começou muito cedo, mas ainda assim houve tempo para completar a 4ª classe, um feito enorme para a época, e para as poucas posses da família.
O meu Pai nasceu "no meio" dos seus irmãos. Quer isto dizer que foi cuidado por eles, mas também ele teve de cuidar de outros. Era assim a vida e a ajuda que tinha de ser dada aos Pais.

Era assim que a responsabilidade e a disciplina vinham também elas muito cedo na vida de uma criança. Essa responsabilidade e disciplina marcaram muito o carácter do meu Pai mas nunca lhe retiraram uma bondade natural que só as pessoas de bom coração têm.

O meu Pai também foi à tropa, mas felizmente não teve de ir para a guerra no ultramar - trauma que marcou uma geração de jovens - mas o meu Pai, dizem que por ser de estatura pequena, acabou por ser "requisitado" como moço de recados do comandante do quartel em Estremoz, e que por isso mesmo e porque a sua filha pequena se afeiçoo ao meu Pai (experiência a cuidar de crianças era coisa que não lhe faltava como já se viu) o afastou do pesadelo da guerra.

Na tropa acabou por "tirar a carta" e isso viria a dar-lhe uma profissão para a vida. Fez-se motorista. Primeiro de camiões de transporte de mercadorias em várias empresas. Mais tarde motorista no estado, ao serviço do ministério da saúde, primeiro num centro de saúde, mais tarde no centro de segurança social.

Foi ai que se reformou. Uma vida dedicada ao seu trabalho, com enorme responsabilidade e disciplina. Os seus carros eram sempre os mais limpos, aqueles que davam menos problemas mecânicos como consequência de uma manutenção levada ao extremo. Saiu cansado, mas reconhecido pelos seus pares. Isso para ele foi o maior orgulho.
Infelizmente não estive presente nesse dia de despedida. Não me recordo porquê, mas sinto que deveria ter estado.

O meu Pai nunca me bateu. É verdade. Não me recordo de uma única ocasião em que este pequeno homem - pequeno de estatura, mas grande de coração - me tenha levantado a mão. E isso é admirável.

Hoje, no caminho para o trabalho uma colega ao meu lado disse-me “o meu Pai morreu”.

A tristeza estava nas suas palavras, no tom da sua voz, na postura do seu corpo, até no sorriso que tentava esboçar. Dei-lhe um beijo, algumas palavras de apoio (que ela sabe serem reais) mas imediatamente dei por mim a pensar no meu Pai, cujo aniversário irá celebrar daqui a 4 dias. Eu não vou estar com ele nesse dia.

Estive com ele este mês. Passamos alguns dias de férias juntos (coisa rara). Mas não vou estar com ele no dia do seu aniversário.
Vou enviar-lhe hoje um presente pelo correio que sei que ele vai gostar. Já o conheço.
Mas não vou estar com ele no dia do seu aniversário.

Vou telefonar-lhe e dar-lhe os parabéns, desejar-lhe "muitos e bons anos", mas não vou estar com ele no dia do seu aniversário.

Quantas mais oportunidades irei ter, para estar com ele no dia do seu aniversário e dizer-lhe pessoalmente - Pai, Amo-te Muito. Parabéns.

Fernando Fausto Margalho Barroso, Filho de João Manuel Garcia Barroso

Tu Lideras a Tua Vida

2 comentários:

  1. Olá

    Bonita homenagem a um pai...
    _______________
    Mesmo atrasado.... um abraço de parabéns ao teu pai.


    Cumprs
    Augusto

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  2. Fernando,

    Muita bonita a sua homenagem ao seu pai. Gostei muito de ler.

    Um abraço,

    Alexandre

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