E se, a minha tentativa de transformar para melhor alguns dos que me rodeiam para construir uma equipa melhor, afinal, não fizer sentido? Se são os "piores" que vão nivelar o conjunto, o que fazer a esses elementos? O que pensar depois de ler o seguinte trecho de um livro:
"Até Jesus Cristo, podemos afirmar, fez amizade entre prostitutas e homens duvidosos. Como é que me atrevo a lançar calúnias sobre os motivos daqueles que estão a tentar ajudar? Mas Jesus era o arquétipo do homem perfeito. E nós somos apenas nós. Como é que sabemos que as tentativas para ajudar alguém não irão, pelo contrário, fazer-lhe pior?
Imagine alguém que tem a missão de
supervisionar uma equipa de trabalhadores excecionais, todos eles esforçando-se
para alcançar um objetivo comum; imagine-os a trabalhar no duro, unidos,
brilhantes, criativos.
Mas a pessoa que os supervisiona também é
responsável por alguém com muitos problemas, que tem um desempenho péssimo noutro lugar. Num impulso,
o gerente bem-intencionado insere essa pessoa problemática na equipa
excelente, tentando que o exemplo dos outros melhore o novo membro do
grupo. O que acontece? a literatura da psicologia é clara quanto a esta
questão.
Será que o novo elemento vai entrar nos eixos de imediato? Não. Em vez disso, é a equipa inteira que degenera. O recém-chegado continua a ser cínico, arrogante e neurótico. Queixa-se. Engana. Falta a reuniões importantes. O seu trabalho, de baixa qualidade, atrasa a equipa e tem de ser refeito pelos outros. Porém, recebe o seu salário, tal como os colegas que, trabalhando duramente, começam a sentir-se traídos. “Porque estou a dar tudo o que tenho com o objetivo de terminar este projeto", pensam eles, “quando o novo elemento da equipa não faz nada?"
O mesmo acontece quando um assistente social bem-intencionado coloca um jovem delinquente entre outros rapazes mais civilizados. Em vez da estabilidade, é a delinquência que se espalha. Piorar é bem mais fácil do que melhorar.
Talvez estejamos a tentar salvar alguém porque
somos fortes, generosos, sólidos, e queremos fazer o que está certo. Mas
também é possível - e, talvez, mais provável - que só queiramos chamar a
atenção para as nossas reservas inesgotáveis de compaixão e boa vontade.
Ou talvez queiramos salvar alguém porque nos queremos convencer de que a
força do nosso caráter é mais do que apenas um efeito colateral da nossa sorte e
lugar de nascimento. Ou talvez porque é mais fácil parecer virtuoso
quando estamos ao lado de alguém profundamente irresponsável."
In “12 REGRAS PARA A VIDA”, p112, Jordan B. Peterson